
Foto: Luiz Paulo Machado
Pra quem me conhece e sabe que aqui só falo de Flamengo, vai estranhar esse post sobre o… Pelé.
Não que ele como jogador de futebol não mereça um destaque, mas é que aqui é um espaço Rubro-Negro! Exclusivo, com muito orgulho!
Mas o fato é que essa matéria abaixo envolve diretamente o Mengão. Conta-se a verdadeira história da famosa foto de Pelé jogando pela
seleção brasileira onde seu suor forma um coração perfeito em seu peito.
E pois é… foi desvendado o mistério. O adversário do Brasil naquele jogo foi o Mengão mesmo, e ainda por cima faturou o "escrete nacional" por 2 a 0… num jogo em homenagem ao grande Geraldo.
Vale a informação e o registro. Ah, e vale também a foto do Rei vestindo o Manto Sagrado ao lado do Galinho, mas isso já é assunto pra outro post.
A coisa é chique. Impresso na região de Verona, berço
das melhores gráficas do mundo, o livro de luxo traz o
requinte dos gols de Pelé. O papel utilizado, o
GardaPat Kiara, produzido sob encomenda por uma
indústria sediada às margens do Lago de Garda, também
na Itália, é especial como as atuações do Rei em Copas
do Mundo. O acabamento, realizado artesanalmente por
um estúdio em Turim — com capa e estojo revestidos de
seda italiana e lombada de couro natural —, é delicado
como o sorriso do menino Edson.
Voltado para colecionadores abastados, numerado e de
tiragem limitada, 1283 (número de gols da carreira do Rei)
pretende ser a compilação fotográfica definitiva de Pelé.
Lançado com pompa no último dia 16 de outubro, no
Museu da Imagem e do Som, em São Paulo, pela editora
Toriba, o livro custa 3 600 reais em seu formato mais
“simples” e 5 500 reais na edição “king”.
O que diferencia uma edição da outra (a cara da muito
cara) é a presença da lendária foto “O Coração do Rei”,
de Luiz Paulo Machado, ex-fotógrafo da PLACAR,
encartada de forma avulsa, numerada, impressa com
pigmentos minerais em papel Canson Infinity 100%
algodão e assinada tanto por Pelé como pelo fotógrafo.
Trata-se de uma das imagens mais clássicas de Pelé e
uma de suas fotos mais conhecidas no mundo.
Para Pelé, “é um registro que só Deus pode explicar”.
Para Machado, é sua obra-prima.“É uma foto reconhecida
mundialmente. Sem dúvida, é minha foto mais importante.”
Embora inacessível para a imensa maioria dos amantes
do futebol, a iniciativa merece aplausos. Só que tem um
probleminha: traz informações erradas sobre sua peça
mais importante. O livro diz que “O Coração do Rei”, cujo
encarte em formato especial faz com que o livro custe
quase 2 000 reais a mais, foi tirada no dia 18 de julho de
1971, durante o empate em 2 x 2 entre Brasil e Iugoslávia,
no Maracanã, na despedida do Rei com a camisa da
seleção brasileira. Um erro de vários anos.
FOTO CERTA, DIA ERRADO
Ao pesquisar a história da foto, os editores do livro
acabaram deparando com uma série de dúvidas.
Oficialmente, a foto não tinha uma data certa, já que o
slide original, arquivado no Dedoc (onde estão os
arquivos da Editora Abril, que publica a PLACAR), estava
em branco, sem qualquer informação que pudesse
esclarecer a questão. Ok, culpa nossa…
A data da primeira publicação da imagem em revistas da
editora também era incerta. Extraoficialmente, porém,
circulava a informação de que a foto teria sido feita em 30
setembro de 1970, durante o amistoso Brasil 2 x 1 México,
conhecido como “Jogo da Amizade”.
Os editores do livro não perguntaram à redação da
PLACAR sobre a data da foto. Foram direto ao autor, que
disse ter certeza absoluta de que a partida em questão
era Brasil 2 x 2 Iugoslávia. E assim ficou.
Mas, descobrimos agora, as duas hipóteses estão erradas.
No jogo Brasil x México, o uniforme da seleção ainda não
possuía as três estrelas — seriam usadas pela primeira
vez no amistoso contra a Áustria, no Morumbi, em 1971.
Quanto ao jogo Brasil x Iugoslávia, seria impossível que a
foto tivesse sido captada nesse jogo, pois a partida foi
realizada durante o dia e Pelé atuou apenas no primeiro
tempo. E “O Coração do Rei” é uma foto noturna. Mais: o
nome de Luiz Paulo Machado nem ao menos consta no
expediente da edição 71 da PLACAR, que noticia a
despedida do Rei. O telefonema do então chefe de
reportagem da PLACAR Juca Kfouri, eufórico com o slide
em mãos, ao fotógrafo, pouco depois da revelação da foto,
também não poderia ter ocorrido em 1971, já que Kfouri
passou a atuar na revista somente em 1974.

CONTRA O MENGÃO Pelé é marcado por Merica / Crédito:
Luiz Paulo Machado
A verdade é que a foto “O Coração do Rei” foi feita no
dia 6 de outubro de 1976, no amistoso beneficente
Brasil 0 x 2 Flamengo, em memória ao craque
flamenguista Geraldo “Assoviador”, falecido
tragicamente após uma malsucedida operação de
retirada de amídalas. Um jogo que entraria para a
história do futebol brasileiro, apesar de poucos se
lembrarem dele (veja abaixo).

CONTRA O MENGÃO a seta indica a presença de outro rubro-negro
A verdade é que a foto “O Coração do Rei” foi feita no
dia 6 de outubro de 1976, no amistoso beneficente
Brasil 0 x 2 Flamengo, em memória ao craque
flamenguista Geraldo “Assoviador”, falecido
tragicamente após uma malsucedida operação de
retirada de amídalas. Um jogo que entraria para a
história do futebol brasileiro, apesar de poucos se
lembrarem dele (veja abaixo).

CONTRA O MENGÃO a seta indica a presença de outro rubro-negro
na foto lendária, aqui mostrada sem nenhum corte / Crédito:
Luiz Paulo Machado
MEMÓRIAS DA REDAÇÃO
A foto original, sem cortes, é a prova incontestável de que
Pelé ganhou o registro de Machado naquele jogo, já que
mostra um jogador do Flamengo no canto esquerdo da
imagem. Luiz Paulo Machado só veria a fotografia
publicada na revista, cortada, sem o atleta flamenguista
em quadro, tempos depois.
Juca Kfouri recorda como se deu a chegada do slide à
redação da PLACAR. “Chegou esse material em uma
sexta-feira para mim. De repente, me vi diante dessa foto,
que é uma foto de prêmio, uma coisa de outro mundo,
sobrenatural.” Nos anos que se passaram, muitos tiveram
a mesma reação ao deparar com o registro, embora a
fotografia jamais tenha recebido qualquer premiação.
Juca conta que, no cargo que ocupava na revista
naqueles idos de 1976, não tinha poder para decidir a
publicação imediata ou não da foto. “Eu teria inventado
uma capa”, diverte-se, antes de ressaltar que era típico
dos hábitos jornalísticos de Jairo Régis, então diretor de
redação da PLACAR, o cuidado de guardar fotografias
especiais para matérias especiais. “Era típico dele, uma
coisa absolutamente adequada ao perfil do Jairo”,
diz Juca.
De fato, a primeira
oportunidade especial
que surgiu para que a
célebre foto fosse
publicada se deu na
ocasião da despedida
definitiva de Pelé do
futebol, quando este
atuava pelo Cosmos,
em outubro de 1977.
Era a edição número
389 da revista, que trazia um encarte especial, em
cores. O “Documento histórico: 22 anos de Pelé”
estampava na capa o registro feito por Luiz Paulo
Machado. “Quem editou o encarte fui eu.
Eu me lembro perfeitamente”, conta Juca.
UM JOGO PARA GERALDO
MEMÓRIAS DA REDAÇÃO
A foto original, sem cortes, é a prova incontestável de que
Pelé ganhou o registro de Machado naquele jogo, já que
mostra um jogador do Flamengo no canto esquerdo da
imagem. Luiz Paulo Machado só veria a fotografia
publicada na revista, cortada, sem o atleta flamenguista
em quadro, tempos depois.
Juca Kfouri recorda como se deu a chegada do slide à
redação da PLACAR. “Chegou esse material em uma
sexta-feira para mim. De repente, me vi diante dessa foto,
que é uma foto de prêmio, uma coisa de outro mundo,
sobrenatural.” Nos anos que se passaram, muitos tiveram
a mesma reação ao deparar com o registro, embora a
fotografia jamais tenha recebido qualquer premiação.
Juca conta que, no cargo que ocupava na revista
naqueles idos de 1976, não tinha poder para decidir a
publicação imediata ou não da foto. “Eu teria inventado
uma capa”, diverte-se, antes de ressaltar que era típico
dos hábitos jornalísticos de Jairo Régis, então diretor de
redação da PLACAR, o cuidado de guardar fotografias
especiais para matérias especiais. “Era típico dele, uma
coisa absolutamente adequada ao perfil do Jairo”,
diz Juca.

oportunidade especial
que surgiu para que a
célebre foto fosse
publicada se deu na
ocasião da despedida
definitiva de Pelé do
futebol, quando este
atuava pelo Cosmos,
em outubro de 1977.
Era a edição número
389 da revista, que trazia um encarte especial, em
cores. O “Documento histórico: 22 anos de Pelé”
estampava na capa o registro feito por Luiz Paulo
Machado. “Quem editou o encarte fui eu.
Eu me lembro perfeitamente”, conta Juca.
UM JOGO PARA GERALDO
Geraldo / Crédito: Fernando Pimentel
No dia 26 de agosto de 1976, uma tragédia se
abateu sobre o futebol brasileiro, especialmente
para os torcedores flamenguistas. Morria, naquele dia,
aos 22 anos, em decorrência de um choque anafilático
quando realizava uma operação para retirada das
amídalas, uma das grandes promessas do clube
carioca, o meia Geraldo, que já despontava inclusive
na seleção brasileira.
Traumatizados, jogadores do Flamengo organizaram uma
partida beneficente, no Maracanã, contra a seleção
brasileira, com a renda — 2,3 milhões de cruzeiros (cerca
de 2,7 milhões de reais, em valores corrigidos pelo índice
IGP-DI) — destinada à família do “Assoviador”, como era
conhecido o atleta graças à mania de assoviar em campo
quando realizava suas jogadas mais ousadas.
No dia 6 de outubro, com a presença de 142 404
torcedores, Pelé, que atuava no Cosmos, voltaria a vestir
a amarelinha depois de cinco anos, fazendo ali, de fato,
sua última partida pela seleção como profissional.
Saiu de campo derrotado — 2 x 0 para o Flamengo, gols
de Paulinho e Luís Paulo — e ofuscado pelo jovem Zico,
que já se preparava para assumir a 10 do escrete nacional.
abateu sobre o futebol brasileiro, especialmente
para os torcedores flamenguistas. Morria, naquele dia,
aos 22 anos, em decorrência de um choque anafilático
quando realizava uma operação para retirada das
amídalas, uma das grandes promessas do clube
carioca, o meia Geraldo, que já despontava inclusive
na seleção brasileira.
Traumatizados, jogadores do Flamengo organizaram uma
partida beneficente, no Maracanã, contra a seleção
brasileira, com a renda — 2,3 milhões de cruzeiros (cerca
de 2,7 milhões de reais, em valores corrigidos pelo índice
IGP-DI) — destinada à família do “Assoviador”, como era
conhecido o atleta graças à mania de assoviar em campo
quando realizava suas jogadas mais ousadas.
No dia 6 de outubro, com a presença de 142 404
torcedores, Pelé, que atuava no Cosmos, voltaria a vestir
a amarelinha depois de cinco anos, fazendo ali, de fato,
sua última partida pela seleção como profissional.
Saiu de campo derrotado — 2 x 0 para o Flamengo, gols
de Paulinho e Luís Paulo — e ofuscado pelo jovem Zico,
que já se preparava para assumir a 10 do escrete nacional.